sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Oração

Ferida demais

procuro a Deus

Volto para traz

nos baços Teus


O corte foi duro

estou arrazada

Dói bem fundo

Quero ser curada


O ímpeto tormento

A recompeça distante.

É o que sinto no momento,

Difícil seguir adiante.


Ilumine minha mente,

leve-me nos braçs Teus.

Acabe com a confusão

junto de Ti, Deus


(Cláudia Elisabeth Ramos)

quarta-feira, 22 de novembro de 2023

Crônicas

 Série "Crônicas de Guerra"


Bebedeira

 

Era noite e eu estava amarrado por um arame farpado a um poste de uma cerca. Estava com uma mordaça na minha boca, feita por um trapo velho. Tinha um arame farpado que me sufocava enrolado a minha garganta ao moerão. Com o canto do olho vi meu amigo Johnson. Johnson era um soldado como eu afrodescendente, forte, alto e bonito. Ele estava como eu, enrolado com o arame farpado no outro poste da cerca. Tanto eu quanto ele estávamos espancados.

A cerca ao qual estávamos presos era à beira de uma estrada de areão. Vi passando pela estrada a nossa frente nossos colegas Flores, Hart e Brian. Hart era branco de cabelos castanhos e olhos verdes, seu nome é fictício. E Brian era branco, de cabelos e olhos castanhos. Seu nome também é fictício. Os três iam passando sem nos verem. Eu desejava gritar pedindo socorro, mas não tinha como. Fiquei torcendo em pensamento para que um deles olhasse na nossa direção. E quem fez isso foi o mexicano. Ele olhou para nós sem acreditar no que via.

– O que é isso? – perguntou ele para os outros dois.

Hart e Brian olharam. Quando se aproximou de nós é que Flores nos reconheceu.

– Irving? Johnson? – e correu em nossa direção.

Os dois outros colegas também vieram. Os três chegaram a nós e foram nos desamarrando, ligeiros, desenrolando os arames. O mexicano veio em mim e Hart e Brian em Johnson. Eles ainda não tinham tirado todo o arame farpado do redor de nós quando tiraram as nossas mordaças.

– O que aconteceu? – perguntou Flores para nós dois enquanto nos desenrolava.

Eu não recordava de nada. Johnson passou a falar furioso:

– A culpa toda foi do irlandês, aí! Ele agarrou e beijou uma garota com o namorado no lado e ainda disse um monte de besteiras para ela e o namorado. O namorado dela reclamou. O irlandês achou-se ainda com o direito de dar um soco nele. O homem lutava como um louco e passou a dar uma surra no Irving – deve ter usado alguma arte marcial. – Eu tentei fazer o homem parar, e defender esse infeliz aí. Só que ele estava com um grupo de amigos. Eles acabaram batendo em nós dois e fizeram isso conosco.

Tive dificuldades de acreditar em tudo aquilo que Johnson disse. Quando estávamos totalmente soltos, questionei para ele:

– Eu fiz isso mesmo? Não me lembro de nada!

– Claro que não lembra! Estava bêbado.

Eu comecei a rir e o mexicano também. E acabou todos nós rindo, até mesmo Johnson. Depois, Johnson pediu para Flores, Hart e Brian:

– Não contem nada pros nossos superiores.

Tanto eu quanto ele sabia que se descobrissem que nós fizemos arruaça na cidade seríamos punidos. Os três garantiram que não iam contar nada.